Ele se sentou na cadeira, impaciente.
A única luz que o alcançava era a do abajur, no criado de madeira ao lado da cama. Havia levantado, inquieto, a mente fervilhava e não permitia que o sono chegasse perto.
A página em branco na tela do computador olhava para ele, impaciente. O cursor piscava, desafiando-o, enquanto ele mordia o lábio em busca de inspiração. A janela do quarto estava aberta, deixando entrar a brisa gelada de inverno. Sobre o que escreveria? Ele ainda não sabia dizer.
Já estava cansado de falar de folhas em branco, de estrelas que ele via ao fechar as cortinas, de amores que seu corpo e sua cama jamais haviam conhecido. Tampouco saberia falar de alegria, há tanto tempo ela não lhe fazia uma visita. Não haviam garrafas vazias ou mesmo um mísero cinzeiro ao lado da escrivaninha, ele não era igual aos personagens sobre os quais escrevia em seus livros. Mesmo em sua ausência de realidade, eles tinham algo para contar - diferente dele e de suas mãos trêmulas, diante da tela vazia do computador.
Sentindo-se vazio, ele se levantou.
Caminhou até o parapeito da janela, em busca de amparo. As mãos se prenderam ali e apertaram, ele sentiu a tensão que subia por seus braços descobertos. Suspirou, enquanto uma das mãos deslizava pela nuca e, depois, pelos fios negros do cabelo. Desfez um cacho. Sentiu-se sozinho, de repente, e desejou muito uma companhia. No entanto, o quarto à sua volta estava vazio, tão vazio quanto ele.
Passou os dedos pelo rosto e teve consciência das olheiras fundas, do nariz torto, da pequena cicatriz escondida no canto do lábio inferior. E, então, entendeu o silêncio que reinava ali - quem era ele para desejar que fosse diferente? Seu nome era apenas um sussurro que as estrelas ouviam, seu corpo estava apenas nas marcas que ele deixava nos lençóis brancos. Nem mesmo era poeta, pensava, era apenas alguém que sabia combinar as palavras.
Tinha, porém, duas faces. Era bom, mas sabia como se tornar vilão. E sabia que as pessoas tinham medo das palavras, de como seus cantinhos afiados podiam abrir feridas. E nem sempre elas se fechavam, nem sempre as cicatrizes sumiam. E, no momento em que ele abriu seus olhos claros pela última vez, tive certeza de que ali estava uma das minhas próprias marcas.
Assustada, abri os olhos e levantei.
A única luz que me alcançava era a do abajur, no criado de madeira ao lado da cama. Meus dedos dedilharam as cortinas e abriram as janelas, mas não encontrei as estrelas - o sol já estava nascendo, à leste. Eu não tive a chance de ouvi-las sussurrar o nome dele.
Ele que, em sua ausência de realidade, foi apenas um sonho que tive.
A única luz que o alcançava era a do abajur, no criado de madeira ao lado da cama. Havia levantado, inquieto, a mente fervilhava e não permitia que o sono chegasse perto.
A página em branco na tela do computador olhava para ele, impaciente. O cursor piscava, desafiando-o, enquanto ele mordia o lábio em busca de inspiração. A janela do quarto estava aberta, deixando entrar a brisa gelada de inverno. Sobre o que escreveria? Ele ainda não sabia dizer.
Já estava cansado de falar de folhas em branco, de estrelas que ele via ao fechar as cortinas, de amores que seu corpo e sua cama jamais haviam conhecido. Tampouco saberia falar de alegria, há tanto tempo ela não lhe fazia uma visita. Não haviam garrafas vazias ou mesmo um mísero cinzeiro ao lado da escrivaninha, ele não era igual aos personagens sobre os quais escrevia em seus livros. Mesmo em sua ausência de realidade, eles tinham algo para contar - diferente dele e de suas mãos trêmulas, diante da tela vazia do computador.
Sentindo-se vazio, ele se levantou.
Caminhou até o parapeito da janela, em busca de amparo. As mãos se prenderam ali e apertaram, ele sentiu a tensão que subia por seus braços descobertos. Suspirou, enquanto uma das mãos deslizava pela nuca e, depois, pelos fios negros do cabelo. Desfez um cacho. Sentiu-se sozinho, de repente, e desejou muito uma companhia. No entanto, o quarto à sua volta estava vazio, tão vazio quanto ele.
Passou os dedos pelo rosto e teve consciência das olheiras fundas, do nariz torto, da pequena cicatriz escondida no canto do lábio inferior. E, então, entendeu o silêncio que reinava ali - quem era ele para desejar que fosse diferente? Seu nome era apenas um sussurro que as estrelas ouviam, seu corpo estava apenas nas marcas que ele deixava nos lençóis brancos. Nem mesmo era poeta, pensava, era apenas alguém que sabia combinar as palavras.
Tinha, porém, duas faces. Era bom, mas sabia como se tornar vilão. E sabia que as pessoas tinham medo das palavras, de como seus cantinhos afiados podiam abrir feridas. E nem sempre elas se fechavam, nem sempre as cicatrizes sumiam. E, no momento em que ele abriu seus olhos claros pela última vez, tive certeza de que ali estava uma das minhas próprias marcas.
Assustada, abri os olhos e levantei.
A única luz que me alcançava era a do abajur, no criado de madeira ao lado da cama. Meus dedos dedilharam as cortinas e abriram as janelas, mas não encontrei as estrelas - o sol já estava nascendo, à leste. Eu não tive a chance de ouvi-las sussurrar o nome dele.
Ele que, em sua ausência de realidade, foi apenas um sonho que tive.
- Laila.