sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

E a saudade levou...

"De repente, tudo parecia real.
Eu juro, naquele instante eu era capaz de sentir a brisa por entre os fios do meu cabelo!
Podia, sob meus dedos, sentir a textura da grama. Sentia, também, a temperatura fria da terra sob minhas palmas. O sol brilhava, despido. Não havia nuvens em torno dele e ele não parecia sentir vergonha. Ele me sorriu, do alto, com malícia. Estaria ele rindo dos dilemas que via em meus olhos? Vai saber...
O céu, naquele dia, tinha tons de aquarela. Vi, na água cristalina do lago diante de mim, o reflexo da saudade em meu rosto. Ninguém mais poderia ver, mas ela estava ali, isso eu posso afirmar. Como poderia eu negar sua presença? Ela se instalou e não pediu licença... Consigo, ela trazia uma surpresa. Ora, nós sabemos que a saudade maltrata as pessoas. Mesmo assim, eu não tive coragem de mandá-la embora.
Ela me trouxe você.
Naquele momento, eu pude sentir o calor da sua respiração. Ouvi a sua voz, grave e distante, murmurando meu nome. Eu podia ver seu rosto, seu sorriso maroto, seus olhos escuros de garoto. Senti seus dedos se entrelaçando aos meus e um arrepio me percorreu, admito. Não pude evitar. Já havia me esquecido das coisas ao meu redor - havia me perdido em você. Lembrei-me dos beijos que nunca demos, dos abraços que nunca vieram, do medo que nos segurava.
Eu podia ouvir, claramente, seus sussurros me contando segredos sobre os seus medos, seus sonhos, seus raros momentos de felicidade. Eu acompanhava o seu riso e me perguntava quantas vezes o medo já o havia tirado do seu rosto. Eu me perdia em seus olhos, eu mergulhava no labirinto confuso que era o seu coração. Não havia mapa, nem mesmo setas - até você tinha medo de entrar ali...
Ao pousar minha cabeça em seu peito, eu podia ouvir as batidas molhadas do seu coração. Naquele instante, fiquei imensamente grata por ouvi-las - não suportaria se ali houvesse apenas o silêncio.
Eu sabia, e como queria poder te chamar de meu, de menino, de amor. Queria poder mexer no seu cabelo, nos contornos do seu rosto e dizer para você que a sua existência, para mim, é sinônimo de felicidade. Queria estar ao seu lado mesmo na tristeza, para poder confortá-lo e dizer que tudo ficará bem.
De repente, um susto. Meus olhos, de súbito, se abriram - mas já não estavam abertos?
Pude ouvir o barulho da chuva pingando na janela. Meus sonhos me levaram para longe, mas as nuvens escuras me trouxeram de volta à realidade. Não entendo... Eu não queria voltar. O céu estava nublado, as ruas estavam molhadas e o vidro da janela estava frio, assim como a distância que me separava de você.
A tristeza está em meu colo e a saudade está rindo de mim. Quero pedir a ela que pare, mas ainda não tenho coragem. Eu juro que eu senti, eu juro. Ela, no entanto, tirou aquilo de mim. Ela me fez lembrar que eu estava longe, muito longe de você.
O céu já não tinha mais os tons de aquarela."

- Laila.



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