domingo, 26 de abril de 2015

Não falar é fácil...

Quantos problemas, meu amigo, você está guardando somente para si?
Se a sua resposta para mim for nenhum, então nós teremos a prova de que alienígenas existem! Todos os seres humanos possuem problemas, não há nada de errado nisso.
Amigo, eu lhe conto - quantos problemas já não tentaram me sufocar! Eu corria, me escondia, fechava os olhos, pois eles tinham muitas caras e algumas eram muito assustadoras. Não me adiantava fingir que eles não existiam. Deitada em minha cama, eu os via pendurados no teto. Olhando pela janela, eu os via flutuando na rua, em meio às pessoas. Mesmo sozinha nas ruas não tinha paz - eles me rondavam como mosquinhas irritantes. Cruz-Credo! Como poderia fugir desses fantasmas, muitos deles entregues a mim por outras pessoas? Como eu poderia, amigo, mandá-los embora do lugar onde deveria morar a coragem?
Sempre pensei que a coragem era como a idade, algo que eu ganharia com o tempo. No entanto, qual foi minha surpresa quando descobri que, se eu a quisesse, deveria conquistá-la! Teria que encarar meus fantasmas de frente, não havia atalho. Era uma estrada única, contínua - e os obstáculos deveriam ser retirados pelas minhas mãos, e de mais ninguém.
Ah, meu querido amigo, eu pensava que poderia guardar esses fantasmas somente para mim. Eu pensei que era forte o bastante para isso, tentei ser o mais forte que eu conseguia. Por muito tempo, fui capaz de esconder em mim as palavras. No entanto, os ombros curvados e os olhos cansados eram outra história - eu não conseguia escondê-los dos olhos à minha volta. Os fantasmas eram reais, meu amigo, eram maldosos. Tiravam meu sono, minha fome, minha energia.
Ao contrário do que muitos pensam, falar não é fácil! Amigo, falar é admitir a existência dos fantasmas e olhar direto para eles! É doloroso, é constrangedor, é necessário! As palavras, porém, podem libertar - tirar esse peso de nós. Todos nós temos um limite, meu amigo, e precisamos respeitá-lo. Uma ponte de madeira pode suportar as pessoas sobre ela durante quantos anos for, mas, se você colocar um avião em cima dela, ela vai quebrar e todos esses anos serão perdidos.
Deite-se aqui comigo, amigo, fale, deixe que as palavras levem embora esses fantasmas.
Estou ouvindo.



- Laila.

sábado, 18 de abril de 2015

O Bicho-da-Seda (The Silkworm)

Amigo! Você não vai acreditar!
Sente-se aqui comigo, deixe-me contar a você as minhas recentes aventuras...
Há poucos dias, eu me aventurei num pedaço do paraíso, que é popularmente conhecido como livraria. Procurava um novo bebê de capa dura para a minha estante, uma história nova, que fosse empolgante, divertida, ao menos enquanto durasse em minhas ávidas mãozinhas.
Eis que o encontro, meu amigo. Seu nome é "O Bicho-da-Seda", escrito por Robert Galbraith.
Trata-se de um romance policial, que narra a investigação de um crime pelo detetive particular Cormoran Strike e sua parceira, Robin Ellacott.
Para se inteirar do início da relação entre o detetive e a moça, recomendo-te ler "O Chamado do Cuco", querido amigo, a primeira aventura de Strike.
Neste livro, o detetive Cormoran Strike é contratado pela esposa de um homem desaparecido, Owen Quine, escritor, cuja personalidade peculiar levanta muitas possibilidades para seu desaparecimento. O detetive, após começar a investigação, percebe que o sumiço de Quine pode não ser um caso tão simples como parecia - ele descobrirá que o romancista foi brutalmente assassinado, de uma maneira que Strike jamais imaginaria ver na vida.
Ele se apega à principal informação que possui sobre o homem - Quine havia escrito um livro no qual, segundo lhe haviam dito, descrevia de maneira rude e venenosa todos aqueles que conhecia e que frequentavam seu círculo social. Sendo assim, havia motivos suficientes para que alguém desejasse eliminá-lo. No entanto, quem seria capaz de cometer um crime tão brutal, assustador e friamente planejado?
Amigo, permita-se algumas horas de curiosidade e mergulhe nessa investigação ao lado do detetive de um metro e noventa e sua parceira, Robin, uma moça perspicaz e atraente que, ao longo da narrativa, precisa descobrir uma maneira de conciliar sua paixão pelo meio investigativo e a relação com o noivo, Matthew, que suspeita existir algo mais que profissional entre ela e o chefe, Cormoran.
Ah, meu amigo, arrisco dizer que você vai gostar muito do detetive Strike. Com seu jeito ponderado e sua memória impressionante, o grandalhão vai enfrentar alguns fantasmas de seu passado, como seu antigo amor, Charlotte, ao mesmo tempo em que descobre uma empatia inesperada com Robin e bate de frente com a descrença da polícia.
Será que Strike encontrará a verdade a tempo, mais uma vez? Talvez nem ele acredite nisso...

- Laila.


segunda-feira, 13 de abril de 2015

Os pântanos de um dia de sol...

Amigo, não me entenda mal. Não sou engenheira, mas aprendi uma coisa ou outra sobre os caminhos dessa vida...
Estava eu, há poucos dias, caminhando em um parque. Sequer reparei em seu nome, em letras garrafais na entrada - o céu azul me distraiu. O sol brilhava, as famílias sorriam, os cachorros pulavam e corriam, arrastando seus pequeninos donos com eles.
Ah, como eu gosto do sol! Quando ele brilha, os celulares ficam cegos e as pessoas se lembram de abrir os olhos. Elas descobrem que, ao redor, há outros como elas, que anseiam por diversão, por carinho, por segredos compartilhados à sombra das árvores.
Nem te conto, meu amigo, quantas coisas já descobri sobre a gente que nunca havia imaginado!
Durante meu passeio, encontrei uma coisa que destoava um pouco da atmosfera alegre.
Ah, você não faz ideia da raiva que havia no rosto dela. Ela estava sentada num banco de madeira, de frente para o sol, mas nem ele surtia efeito em seu humor negro. Seus ombros estavam curvados, as mãos estavam escondidas no colo e seus cabelos cobriam metade de suas feições. Ah, amigo, a curiosidade me fez parar para observar, é claro. De um jeito incomum, senti como se os olhos escuros dela pedissem uma companhia - ela estava sozinha. Não somente sozinha, mas se sentindo sozinha, e isto é algo que nenhuma pessoa deveria sentir.
As pessoas passavam por ela, mas não a viam - ela havia construído um verdadeiro fosse em volta dela. Com água de pântano, crocodilos e uma porta levadiça que, naquele instante, estava fechadíssima. Talvez ela quisesse alguém ao seu lado, mas não estava deixando ninguém chegar perto - havia construído seu próprio muro.
Ah, meu querido amigo, por que as pessoas fazem isso? Por que é que elas criam essa atmosfera para si mesmas? Elas se isolam, se escondem, e depois não entendem por que os outros não conseguem chegar até elas. Os seres humanos alcançaram esse infeliz estágio - não confiamos mais em nós mesmos. Afinal, é mais fácil erguer paredes do que estender pontes - as pessoas que adivinhem o que se passa conosco.
Apesar de tudo, amigo, eu nunca fui dada a comodismos. Detesto adivinhações. Sendo assim, pulei os crocodilos, cortei as cordas que fechavam a porta levadiça e, quando ela caiu, sentei-me ao lado dela e lhe ofereci um sorriso.
A solidão é uma escolha, meu amigo. Abra as portas de sua fortaleza, o céu está lindo lá fora.

- Laila.


sábado, 4 de abril de 2015

Sigo em frente, arrasto a mente...

Amigo, posso emprestar seu ombro por um minutinho?
Preciso lhe contar. Há poucos dias, eu descobri que as respostas que eu tanto procuro podem estar escondidas nos momentos mais improváveis. Sentada estava, olhando para o vazio, enquanto mãos experientes deslizavam pelos fios de meu cabelo e o som da tesoura ecoava em meus ouvidos. Pelo canto do olho, eu via as pontas caindo no azulejo branco do chão. Meus ouvidos estavam ocupados - eles escutavam às histórias contadas pelo dono daquelas mãos.
Apesar do abismo entre nossas idades, nossos problemas eram quase irmãos - falavam do coração, aquele pilantra, que só servia para confundir nossas cabeças! É, meu amigo, nem todos somos tão diferentes assim. Aquele era, agora, nosso reino. A incerteza era rainha, o medo era príncipe e a dúvida era a sombra que nos seguia pelo quarto, pelas ruas, pelas noites que estávamos passando em claro.
Ele contou aos meus ouvidos sobre um sentimento que vivia - não sabia se era certo, se podia confiar nele. O sentimento podia traí-lo, deixar sua cara no chão. Ora, amigo, quantos de nós já não vivemos essa mesma situação? Tão logo minha imaginação começou a voar, pensamos juntos em todos os finais que aquilo poderia ter. Sem bola de cristal, era só o que restava fazer. Meus ouvidos o compreendiam, eu também vivia aquela dúvida. Havia alguém, longe de mim, que sequer imaginava as tempestades que causava em meu coração. No entanto, o dono das mãos possuía algo que eu não tinha - uma coisinha chamada coragem.
Diferente de mim, ele percebeu que não podia mais guardar aquilo somente para si. Esse alguém, seu alguém, era um peso bom que ele precisava tirar das costas. Como um livro, ele carecia de um final. Amigo, você não vai acreditar - ele engoliu o medo e resolveu! Apesar da decepção que isso podia trazer a ele, o caminho agora estava livre para que ele seguisse, sem culpa, sem nada que o prendesse.
Fugir da dor, amigo, seria como andar em círculos. O caminho da vida é um só e, se você quiser prosseguir, precisa enfrentar os problemas, tirar o peso das costas. O fim da estrada continua no mesmo lugar, e só você pode chegar até ele - pois ele não fará o mesmo por você.
No fim, amigo, o chão estava cheio de fios de cabelo e minha cabeça estava do avesso. A coragem? Ainda procuro...


- Laila.