segunda-feira, 23 de junho de 2014

O cantor de histórias

"Certa vez, uma menina estava passeando na praia com seu namorado.
Ambos riam e deixavam pegadas na areia úmida. O rapaz não segurava suas mãos - ele gesticulava as palavras que dizia, pois a menina era surda e não podia ouvir sua voz. Ele gostava de contar histórias para sua amada, histórias sobre mundos incríveis, sobre animais fantásticos, sobre fadas, sereias, dragões... Eram longas, pois ele precisava gesticulá-las na língua dos sinais, mas ele nunca se cansava de contá-las.
Contudo, a menina não era feliz.
Quando seu namorado se despedia e ia para casa, ela o seguia sem ser vista. Atrás de uma palmeira ou de um arbusto, ela o observava na varanda, sentado em sua rede, segurando o antigo violão de sua família. Ela o via dedilhar as cordas e mover os lábios, e sabia que, naquele momento, ele estava cantando todas as histórias que contava para ela. Cantava sobre as mesmas fadas, as mesmas sereias, os mesmos dragões, mas ela não podia ouvi-lo.
Ele perguntava a ela o motivo da tristeza, mas ela nunca lhe contou.
Dias depois, houve uma terrível tempestade. O mar, irritado e violento, avançou pela praia e destruiu o cais, os barcos e as casas. A menina fugiu com sua família para se salvar, e passou a noite inteira acordada e preocupada. Ao amanhecer, ela correu até a casa de seu namorado, ignorando a lama e as árvores caídas no caminho. Ao chegar lá, porém, viu que a casa havia sido destruída.
Não havia ninguém, não havia mais nada.
Ela encontrou, no arbusto onde costumava se esconder, o violão da família dele com as cordas arrebentadas. A menina agarrou os restos do instrumento e se ajoelhou na areia, incapaz de escutar o som do próprio choro. Atirou os restos do violão ao mar, proferindo mil maldições em sua mente por ele ter levado o rapaz que ela amava.
Exausta, ela cobriu o rosto com as mãos.
Sentiu, porém, que os dedos gelados do mar haviam alcançado suas pernas. Ao olhar novamente, ela percebeu que havia uma pequena concha na areia, aquelas conchas bonitas que as pessoas usam para ouvir o barulho do mar. A menina a pegou e, sem saber o que fazer, aproximou-a da orelha.
Assustada, ela ouviu.
Ouviu o som do mar. Ouviu, também, o som das cordas do violão e a voz de um rapaz cantando histórias, as mesmas histórias que ela conhecia tão bem. As mesmas fadas, as mesmas sereias, os mesmos dragões.
A menina se ajoelhou ali, na areia, ouvindo seu namorado cantar para ela pela primeira vez."
(Miriade)
 
 
- Laila.

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